quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Cefalópodes e o Príncipe

Muito antes de Platão e Aristóteles, houve Cefalópodes, o mais popular filósofo grego da época.

Certa vez, um homem que se apresentara como Príncipe desafiou Cefalópdes a debater como seria a República. A discussão transcorreu assim:

- Companheiro - disse Cefalópodes no costumeiro tom informal - desculpe-me, mas como um monarquista poderia entender de República?

- Ora, meu caro Cefalópodes, sou um príncipe, não de um reino, mas sim do saber.

- Entendo. Semelhante ao Ronnie Von?

- Ronnie Von?

- É. Consultei o oráculo e me foi revelado que haverá um príncipe chamado Ronnie Von que terá este título, mas não terá reino. Ele será cantor.

- Cantor? Não consigo conceber a existência de um príncipe de uma arte tão reles!

- E o que um Príncipe do Saber entende de República? - insistiu Cefalópodes.

- Tudo, ora.

- Da antiga e da nova?

- De todas. Sou muito letrado.

- Arrá! Estou em vantagem: além de letrado, sou numerado também.

- Você é ridículo, suas concepções são absurdas! Só lhe dão crédito porque você é incrivelmente popular!

- Olha a inveja, companheiro.

- Inveja? Vejamos: qual seria sua concepção de República?

- Um Estado de todos!

- Isto é absurdo. Minha concepção de República é melhor: um Estado de poucos!

- Como assim "um Estado de poucos", companheiro? Não precisa a República de um exército com valorosos soldados para defender suas fronteiras?

- Sim...

- E de ter seu litoral guardado por uma poderosa esquadra naval?

- Sim...

- Não é papel da República incentivar as artes, o teatro, a poesia, a matemática, a filosofia?

- Sim...

- E não é dever da República garantir o sustento de seus cidadãos?

- Sim...

- Nesta República dos sonhos, os princípios de justiça não deveriam ser observados para todos os cidadãos?

- É fato...

- Ora, companheiro, então é forçoso admitir que se a República precisa de tudo isso, são necessárias insitituições públicas para prover tais serviços.

- Não é verdade. O Estado deveria tão somente criar condições para que os cidadãos naturalmente atinjam tais fins, não forçá-los através de instituições que não resolvem o problema e oneram o povo.

- Vou explicar através de uma metáfora.  Supondo ser o Olimpo uma República, sendo Zeus o governante, diria o companheiro que o Olimpo se aproxima mais da minha concepção ou da sua?

- Não entedi.

- Veja: no Estado governado por Zeus, há ministérios diversos, como os do amor, da guerra, dos mares, das cidades, da sabedoria, das artes, da justiça, das colheitas, da caça, do vinho, da alegria, do fogo, da família e até dos mortos... fora as secretarias, como a secretaria de trabalhos especiais do companheiro Hércules!

- Ora, isso é mitologia! No Olimpo, ninguém paga impostos! Os deuses simplesmente estalam os dedos e pronto! Diferente de nós, mortais, que não temos poderes mágicos!

- O companheiro vai me desculpar, mas dizer que Zeus está errado é admitir que nossa discussão está no fim...

- Como? Que espécie de argumentação é esta onde deuses são evocados? Isso é absurdo! Coisa de coríntios!

- Não fale mal de coríntios! Torço muito por eles, companheiro. Mas, deixemos o nhe-nhe-nhem de lado.  Como prova de minha boa vontade, vamos pedir um plebiscito aqui na praça para saber quem foi superior nesta discussão!

Assim, os gregos foram sendo chamados um a um e reunidos em círculo, com os dois debatedores no meio: cerca de vinte gregos atenderam ao pedido. Cefalópodes pediu a palavra e anunciou a plenos pulmões: "Companheiros! Temos aqui um impasse: de um lado, eu acho que Zeus está certo. Do outro, ele acha que Zeus está errado. Queremos saber quem venceu a discussão?"

O príncipe, irritado com o resultado, saiu chutando as pedras do caminho, prometendo retornar para finalmente derrotar Cefalópodes, o mais popular filósofo grego da época.

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