domingo, 25 de setembro de 2011

As Fabulosas Fábulas de Auto-Ajuda que Não Deram Certo

Quem Mexeu no Meu Queijo?


Quando o colaborador Bob acordou, viu-se metamorfoseado num ratinho.  Ato contínuo, Bob foi lançado num labirinto onde acabou encontrando outro ratinho, Bill.  Os dois se apresentaram e decidiram fazer uso do recém adquirido olfato apurado para achar comida.


A busca frenética de Bob e Bill não tardou em dar resultados: como uma miragem, uma montanha de queijo surgira diante dos dois ratinhos que entraram em êxtase.  Foi por sugestão do colaborador Bob que o local foi convencionado como ponto C.  - Por que não "A"? - perguntara Bill. - Ora, que diferença faz? Somos analfabetos mesmo! - ponderara Bob.  E assim, Bob e Bill acabaram criando uma espécie de rotina: ambos saíam do local convencionado como lar, seguiam até o queijo, comiam um pedaço e retornavam ao ponto de origem.


Assim foi até o dia quando Bob e Bill perceberam que a farta montanha de queijo praticamente desaparecera.  - O que aconteceu? - perguntou Bill.  - Ontem tínhamos bastante queijo, agora praticamente sumiu! - completou.  O colaborador Bob ficou em silêncio, ponderando sobre o sentido de tudo aquilo.  Levou menos de 1 décimo de segundo.


- Não consigo explicar coisa alguma! - argumentou Bob. - Logo, vamos procurar uma outra montanha de queijo! - sugeriu.


- Isso não faz o menor sentido! - contra-argumentou Bill.  - Devemos ficar aqui e investigar o que aconteceu!  Só então teremos uma ideia clara de como prosseguir!


- Você é resistente a mudanças!  - acusou o colaborador Bob.  - Por isso nunca terá sucesso na vida!


Foi assim que os dois ratinhos se separaram.  Bill continuou a rotina de visitar os restos de queijo no Ponto C, enquanto Bob disparou no labirinto procurando outra montanha.  Alguns dias se passaram até que, finalmente, Bob encontrara outra montanha de queijo, desta vez do tamanho do Everest!   Para o colaborador, aquela era a recompensa daquele que buscara a mudança, que não se prendera ao passado.


Bob escalou o queijo, conquistou o topo e lá teria fincado uma bandeira, tivesse o colaborador uma bandeira, ou habilidade para fincá-la.  Lá de cima, Bob conseguia ver o labirinto, e, com muito pesar, viu o colega Bill explorando o já exaurido Ponto C.  Bob teve uma vontade incontrolável, estúpida, visceral de ficar em duas patas, bater no peito e gritar: "EU SOU F..."


Acabou engolido pelo gato do Dr. Spencer.

terça-feira, 20 de setembro de 2011

As Fabulosas Fábulas de Auto-Ajuda que Não Deram Certo

Onde Encontrar a Verdadeira Paz?
Certa vez, o rei de um reino muito distante resolveu premiar generosamente aquele que soubesse onde encontrar a verdadeira paz.   Grande foi o interesse de todos, não só de artesões, trovadores, poetas e pintores, mas também de ferreiros, soldados e do colaborador Bob. 
O rei ouvia de tudo: que a verdadeira paz encontrava-se no alto do Himalaia, em um templo budista, na capital da Bolívia, na Jamaica ao som de Bob Marley, na Finlândia e até na casa de tolerância de Dona Fifi.  Diante das respostas, o rei foi desanimando, até que, por fim, chegou a vez do colaborador.
- Meu caro rei... – disse, após entregar ao rei um cartão. – Tenho aqui a resposta para sua demanda, o que não tardarei em apresentar...
O rei ficou em silêncio enquanto o colaborador Bob apresentava a empresa, mercados de atuação, estrutura organizacional, países onde operava, número de funcionários, evolução das vendas, lucratividade no último trimestre, tudo com gráficos coloridos, fotos e até vídeos da empresa.
O rei já bocejava sem disfarçar quando o colaborador, muito atento, resolveu apresentar finalmente a resposta.  Porém, antes da resposta, Bob advertiu que seria necessário definir o escopo daquele trabalho e quais premissas haviam sido utilizadas.  Mais outra hora se arrastou até que o colaborador chegasse ao ponto.
- E eis, portanto, que tenho o prazer de apresentar a Vossa Majestade onde encontrar a verdadeira paz, desde que observados o escopo e as premissas previamente discutidas.  Eis onde encontrar a verdadeira paz!
Incrédulo, o rei observou uma foto de um passarinho dormindo em um ninho feito no semáforo de um cruzamento muito tumultuado.  O colaborador Bob, sorrindo forçosamente, completou: a verdadeira paz está conosco, mesmo nos lugares mais impr...
O rei subitamente levantou-se, puxou a cimitarra que carregava na cintura e, com um golpe rápido decapitou o colaborador Bob. 
Fez-se o silêncio.  Sujo de sangue, o rei percebeu que havia finalmente encontrado a verdadeira paz.  E sorriu satisfeito.

sábado, 3 de setembro de 2011

Alice no País das Maravilhas

Após beber um suco esquisito e comer um pastel gorduroso, Alice passou mal, correu sem rumo e caiu num buraco.  Amparada por um sujeito que usava uma grande cartola, Alice se levantou e, ainda meio tonta, perguntou: "Onde estou?"
- Ora, minha querida - respondeu o estranho senhor - esta é a estação Estácio do metrô do Rio!
- Mas... como eu vim parar aqui? - perguntou a moça.  - E quem é o senhor?
- Ora, eu tenho uma chapelaria ali no centro, perto da estação Uruguaiana.  Todos dizem que sou louco, nem tanto por ser um chapeleiro, mas sim por ter uma pequena empresa legalizada no Brasil.  Mas, ora, quem não tem uma loucurazinha secreta?  A sua, bela jovem, qual seria?
- Bom... - respondeu Alice, sem graça, - eu gosto de comer ovo cor de rosa logo de manhã...
- Aaaaah... desses coloridos, que ficam nos balcões dos botecos?  Parece insano...
- E como eu vim parar aqui?  Eu lembro de ter caído num buraco... Mas, estamos numa plataforma... e faz tanto tempo que estamos conversando...
- Eu achei que você estivesse correndo para pegar o metrô... Como tenho um vale idoso, passei duas vezes e ninguém precebeu.  Estamos aqui esperando o metrô para o Centro faz 10 minutos...
A conversa foi interrompida por um senhor que mais parecia um coelho, andando apressadamente pela estação enquanto olhava para o relóigio: "estou atrasado, estou atrasado, estou atrasado..."  O senhor passou direto por Alice e o Chapeleiro, jogou-se da plataforma nos trilhos e continuou correndo até desaparecer na escuridão do túnel. 
- Deixe-o... - disse o Chapeleiro, percebendo o espanto de Alice.  - Se ele esperar pelo metrô aí é que ele vai se atrasar mesmo...
Passaram-se mais cinco minutos até que a grande minhoca de lata da década de 70 chegasse vagarosamente à plataforma.  Os dois entraram no carro, tentaram ir para o centro do vagão, mas não conseguiram.
O trem partiu em velocidade irritantemente lenta, com várias paradas imprevistas.  Na estação Praça Onze, o Chapeleiro disse: "Alice, você corre perigo!"
- Como assim? - sobressaltou-se Alice.
- Na próxima estação, uma multidão adentrará este trecho onde estamos e seremos esmagados...
Alice achou um exagero do homem e não acreditou nele.  Antes de chegar à estação Central, o trem parou mais uma vez e Alice assustou-se ao ouvir o aviso: "atenção, ficaremos parados aguardando a normalização do tráfego à frente..."
- Tráfego?  Mas isso é um metrô!  Não pode ter tráfego!!
- Ora, querida! - respondeu o Chapeleiro.  - Todos nós temos nossas loucurazinhas... Nada aqui faz sentido!
- E de onde veio essa voz?
- Do gato risonho... - respondeu uma mulher.  - Ele é o condutor do trem...
- O trem está se movendo! - alarmou-se o Chapeleiro.  - Rápido menina, tome este comprimido e se esconda debaixo do meu chapéu!
- Hein? ....
De repente, as portas do metrô se abriram e milhares de pessoas entraram como uma avalanche "Avancem!  Avancem! Avancem!"  Alice tomou o comprimido e começou a encolher rapidamente até ficar do tamanho de um cartão.  O Chapeleiro imediatamente guardou a menina debaixo do chapéu, antes que ela virasse pasta de tomate.
- No centro do carro tem lugar! - ouviu Alice, de dentro do chapéu.  - Céus!  Quem foi o autor de tanta crueldade?
- A Rainha Vermelha - respondeu o Chapeleiro, enigmaticamente.  - Ela agora é do PMDB e governa tudo aqui...
O trem partiu com as pessoas esmagadas no interior dos vagões.  E a situação ainda foi mais agravada com a freada brusca que sucedeu a partida.  Gritos de dor se espalharam e Alice teve vontade de chorar.
- Calma menina... Estamos quase lá...
E a viagem continuou calamitosa pela estação Presidente Vargas até finalmente chegar à Uruguaiana, quando o chapeleiro foi expelido do vagão.  O homem foi para um canto, retirou Alice do chapéu e lhe entregou outro comprimido, que a fez voltar ao tamanho natural, porém, nua.
- Chapeleiro!  Ajuda!  Estou pelada!  Como posso sair pelo Centro do Rio assim?
- Ora, minha querida, eu sou um cavalheiro, acima de tudo. Tome, fique com o meu chapéu!

E assim o Chapeleiro, satisfeito, andou naquela manhã pelas ruas do Centro do Rio para mais um dia de trabalho.