sábado, 3 de setembro de 2011

Alice no País das Maravilhas

Após beber um suco esquisito e comer um pastel gorduroso, Alice passou mal, correu sem rumo e caiu num buraco.  Amparada por um sujeito que usava uma grande cartola, Alice se levantou e, ainda meio tonta, perguntou: "Onde estou?"
- Ora, minha querida - respondeu o estranho senhor - esta é a estação Estácio do metrô do Rio!
- Mas... como eu vim parar aqui? - perguntou a moça.  - E quem é o senhor?
- Ora, eu tenho uma chapelaria ali no centro, perto da estação Uruguaiana.  Todos dizem que sou louco, nem tanto por ser um chapeleiro, mas sim por ter uma pequena empresa legalizada no Brasil.  Mas, ora, quem não tem uma loucurazinha secreta?  A sua, bela jovem, qual seria?
- Bom... - respondeu Alice, sem graça, - eu gosto de comer ovo cor de rosa logo de manhã...
- Aaaaah... desses coloridos, que ficam nos balcões dos botecos?  Parece insano...
- E como eu vim parar aqui?  Eu lembro de ter caído num buraco... Mas, estamos numa plataforma... e faz tanto tempo que estamos conversando...
- Eu achei que você estivesse correndo para pegar o metrô... Como tenho um vale idoso, passei duas vezes e ninguém precebeu.  Estamos aqui esperando o metrô para o Centro faz 10 minutos...
A conversa foi interrompida por um senhor que mais parecia um coelho, andando apressadamente pela estação enquanto olhava para o relóigio: "estou atrasado, estou atrasado, estou atrasado..."  O senhor passou direto por Alice e o Chapeleiro, jogou-se da plataforma nos trilhos e continuou correndo até desaparecer na escuridão do túnel. 
- Deixe-o... - disse o Chapeleiro, percebendo o espanto de Alice.  - Se ele esperar pelo metrô aí é que ele vai se atrasar mesmo...
Passaram-se mais cinco minutos até que a grande minhoca de lata da década de 70 chegasse vagarosamente à plataforma.  Os dois entraram no carro, tentaram ir para o centro do vagão, mas não conseguiram.
O trem partiu em velocidade irritantemente lenta, com várias paradas imprevistas.  Na estação Praça Onze, o Chapeleiro disse: "Alice, você corre perigo!"
- Como assim? - sobressaltou-se Alice.
- Na próxima estação, uma multidão adentrará este trecho onde estamos e seremos esmagados...
Alice achou um exagero do homem e não acreditou nele.  Antes de chegar à estação Central, o trem parou mais uma vez e Alice assustou-se ao ouvir o aviso: "atenção, ficaremos parados aguardando a normalização do tráfego à frente..."
- Tráfego?  Mas isso é um metrô!  Não pode ter tráfego!!
- Ora, querida! - respondeu o Chapeleiro.  - Todos nós temos nossas loucurazinhas... Nada aqui faz sentido!
- E de onde veio essa voz?
- Do gato risonho... - respondeu uma mulher.  - Ele é o condutor do trem...
- O trem está se movendo! - alarmou-se o Chapeleiro.  - Rápido menina, tome este comprimido e se esconda debaixo do meu chapéu!
- Hein? ....
De repente, as portas do metrô se abriram e milhares de pessoas entraram como uma avalanche "Avancem!  Avancem! Avancem!"  Alice tomou o comprimido e começou a encolher rapidamente até ficar do tamanho de um cartão.  O Chapeleiro imediatamente guardou a menina debaixo do chapéu, antes que ela virasse pasta de tomate.
- No centro do carro tem lugar! - ouviu Alice, de dentro do chapéu.  - Céus!  Quem foi o autor de tanta crueldade?
- A Rainha Vermelha - respondeu o Chapeleiro, enigmaticamente.  - Ela agora é do PMDB e governa tudo aqui...
O trem partiu com as pessoas esmagadas no interior dos vagões.  E a situação ainda foi mais agravada com a freada brusca que sucedeu a partida.  Gritos de dor se espalharam e Alice teve vontade de chorar.
- Calma menina... Estamos quase lá...
E a viagem continuou calamitosa pela estação Presidente Vargas até finalmente chegar à Uruguaiana, quando o chapeleiro foi expelido do vagão.  O homem foi para um canto, retirou Alice do chapéu e lhe entregou outro comprimido, que a fez voltar ao tamanho natural, porém, nua.
- Chapeleiro!  Ajuda!  Estou pelada!  Como posso sair pelo Centro do Rio assim?
- Ora, minha querida, eu sou um cavalheiro, acima de tudo. Tome, fique com o meu chapéu!

E assim o Chapeleiro, satisfeito, andou naquela manhã pelas ruas do Centro do Rio para mais um dia de trabalho.

3 comentários:

BarracObama disse...

muito boa essa revisao. O Cabral de Rainha foi otimo.

Anônimo disse...

Melhor que a Alice do Tim Burton!

Armando disse...

E nessa história, quando o trem para na Central, eu me sinto o próprio Humpty Dumpty caindo do muro...