sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Distrito 9

E agora, José?  Desde quando a crítica cinematográfica deixou de ser tão crítica?  Vou tomar como exemplo o alardeado "Distrito 9", considerado um grande sopro de renovação dos filmes de ficção científica.  Ou ainda, uma fábula engenhosa sobre o apartheid sulafricano. 

No entanto, visto bem de perto, "Distrito 9" é a mistura de "Inimigo Meu" com "A Mosca", só que filmado em Joanesburgo.   Os efeitos visuais, aliás, lembram muito esses dois filmes,  ícones da década de 80.  Então, cadê a tal inovação? 

Dois fatores podem explicar um certo abrandamento da crítica.  Primeiro, o fator econômico.  Segundo, o fator tempo.   Sim, estou ficando mais velho que os críticos de plantão - e  isso conta, mas só até certo ponto: quando a senilidade aparecer, creio que conseguirei ver "Distrito 9" com outros olhos.

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Intelectuais Debatem o Caso do Trem sem Maquinista

No dia 19 de janeiro, um trem da Supervia percorreu 4 estações sem maquinista.  Convidamos alguns intelectuais para debater o tema.

Dr. Zaprionus: parece-me que o trem atingiu 100 Km/h o que fez com que o tempo passasse mais lentamente para os passageiros que superlotavam a composição em relação ao maquinista que havia perdido o trem.

Dra. Drosofila:  Eu discordo que o trem tenha percorrido 4 estações.  Na verdade, o trem não chegou a Oswaldo Cruz.  Suponha que estejamos em pé a 1 metro de uma porta.

Dr. Tabanus: Porta metálica ou de madeira?

Dra. Drosofila: A constituição da porta é irrelevante para o estudo de caso proposto.  Pois bem, vamos percorrer metade da distância, meio metro.  Vamos dividir o meio metro restante em dois.  Se o fizermos sucessivamente, não só deixaremos de alcançar a porta, bem como qualquer outro lugar.

Dr. Calliphora: Há que considerar neste problema filosófico a ideia de limite.  Embora as distâncias podem ser subdivididas infinitamente, ao somá-las o limite se aproxima de 1.

Dr. Zaprionus: ... com o tempo passando mais lentamente para os passageiros do trem desgovernado.

Dr. Tabanus: Desgovernado ou sem maquinista?  De qualquer forma, parece-me que o tempo mais lento funciona como uma externalidade ao homo economicus que superlotava os vagões.  O atraso causou impacto em diversas outras variáveis, notadamente nos setores ligados à manutenção de ativos empresariais.

Dra. Drosofila: Pois sim, uma vez que a turma da limpeza jamais chegará às portas da direção das empresas.

(Risos dos participantes).

Esta foi mais uma e exclusiva mesa redonda de intelectuais

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Poesia para Horas Inconvenientes *

(* Em português, possui o sentido de: "Poesia numa hora dessas?")

O big-bang ao contrário
É a morte.
É o retorno àquela singularidade
da qual nada conhecemos
Mas, acima de tudo, saibam
a morte é um saco
Para aqueles que ficam.

(Ainda por cima nos é cobrada taxa
Sobre a bagagem deixada
Pois a morte, vejam só, é tributada:
Parte da moeda do barqueiro
Acaba nas mãos do governo).

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Estamos parados aguardando a normalização do tráfego

Ficou mais difícil empurrar o gado para os vagões, talvez tenhamos que pensar em peões circulando a cavalo pelas plataformas para facilitar o transporte do rebanho.  Estou falando do metrô do Rio de Janeiro que, após milhões investidos, transformou-se no pior metrô do mundo.  Yes, baby!  We are the champions!!!!

Vejam só que ideia brilhante.  Inauguraram em dezembro uma nova estação, General Osório, no extremo Zona Sul da Linha 1.  Além disso, fizeram uma ligação direta da Linha 2  para a Linha 1, na altura da Central do Brasil, fazendo com que a baldeação deixasse de ocorrer na estação Estácio.  Até aí, tudo bem.  O raio é que os gênios inventaram que o trem oriundo da Linha 2 só vai até Botafogo, umas três estações antes de General Osório. 

Entenderam?  O sujeito que deseja ir da Pavuna até General Osório, por exemplo, deve fazer baldeação da estação Central até a estação Botafogo.  Agora, o sujeito que deseja ir da Pavuna para a Saens Pena, que antes saltava no Estácio e fazia a transferência para a Linha 1, agora deve ir até a Central e esperar o trem que vai para a Tijuca, trem este que divide a mesma linha com aquele que vai para a Pavuna.  Parece confuso?  Agora, imagine que a empresa tenha reduzido a quantidade de vagões, talvez para colocar mais trens circulando.  Temos, então, intervalos maiores entre os trens que contam com menos vagões.

Intervalos maiores?  Sim, pois na Linha 1 trens com dois destinos distintos dividem os mesmos trilhos a partir da Central:  Pavuna-Botafogo, Tijuca-Ipanema.  Logo, por mais que a companhia metropolitana tenha diminuído o tempo entre os trens, para os passageiros que vão para a Tijuca, por exemplo, não serve o trem para a Pavuna.

Os resultados dessa maquinação diabólica para um mês tipicamente de férias são:

1. Plataformas lotadas: a única estação apta para comportar baldeação entre linhas (Estácio) não está sendo usada para este fim.   Com isso, estações sem a menor condição de suportar uma transferência de trens estão sendo usadas.

2. Trens lotados, visto que são menos vagões e maiores os intervalos entre destinos de grande procura.

3. Maiores paradas para aguardar "a normalização do tráfego", talvez dada a complexidade de operar com trens fazendo dois itinerários distintos na mesma linha.

4. A criação de uma nova profissão: a do sujeito que fica na plataforma com placas para informar se a composição estacionada se dirige para a Tijuca ou para a Pavuna.

Vejo essa lambança fenomenal e concluo que a humanidade está caminhando a passos largos para a extinção.

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Evitar Avatar

James Cameron é o rei dos avanços técnicos por trás das câmeras.  Seja pela câmera desenvolvida para filmar debaixo d'água que marcou "O Segredo do Abismo", seja pela impressionante computação gráfica do vilão de metal líquido em "O Exterminador do Futuro 2", ou pelo robô submarino que filmou o Titanic no fundo do oceano.

Quando se trata de contar uma história, contudo, James Cameron se revela o rei dos clichês.  E Avatar não foge à regra. Estão todos lá: o militar "mau super mau" com cicatrizes na têmpora (faltou um tapa-olho para ficar mais clichê ainda); o mocinho que percebe que o militar "mau super mau" é, de fato, "mau super mau" e que as criaturas ecologicamente corretas do planeta são do bem, além, é claro, da paixão que faz o mocinho mudar de lado (não no sentido Brokeback Mountain, esclareço).

O filme dura umas 3 horas, mas que parecem 6. As duas horas de "imersão" do personagem na cultura dos alienígenas poderia ser resumida num clipe inspirador de 5 minutos, no melhor estilo "preparação para a luta de Rocky Balboa".  Contudo, James Cameron optou por um sonolento "Dança com Lobos" alienígena que só prende a atenção nos primeiros 30 minutos de projeção.


Engraçado mesmo foram algumas críticas do filme, como uma que o compara a uma cebola que vai sendo descascada  , ao final, revela-se como uma crítica devastadora ao imperialismo americano.  Hein?  Eu até concordo que o filme seja como uma cebola, visto que é chato de chorar.
 
De minha parte, fico apenas com a pergunta: como uma civilização que consegue viajar por 5 anos no espaço com a tripulação dormindo em criogenia não consegue dizimar um planeta habitado por felinos humanóides de três metros que contam com arco e flecha como defesa?

PS: a julgar pelas bilheterias do filme, eu estou errado.