quinta-feira, 20 de outubro de 2011

As Fabulosas Fábulas de Auto-Ajuda que Não Deram Certo

A Importância da Comunicação


Certo dia, o sultão de um reino de difícil trânsito - devido a faixas exclusivas para camelos e dromedários - sonhou que havia perdido todos os dentes.  Para desvendar o significado, convocou todos os adivinhos, oferecendo-lhes cem moedas de ouro como recompensa (as mesmas cem moedas que, sem que o Duque de... percebesse, haviam de fato sumido da sacola de couro da fábula anterior).


O primeiro adivinho apresentou-se diante do sultão como colaborador Bob, espalhou uma fumaça fedorenta pelo lugar, revirou os olhos e declarou:


- Majestade... cada dente perdido significa uma moeda de prata... da fada do dente... - disse pausadamente.


O sultão gostou da ideia, mandou chamar os guardas e ordenou que todos os dentes do adivinho fossem arrancados para reforçar o caixa 2 do reino.


O segundo adivinho adentrou o recinto, apresentou-se também como colaborador Bob, espalhou mais fumaça fedorenta pelo lugar, revirou os olhos, fez "hummmmmm" e disse:


- Majestade... cada dente perdido significa menos kafta e mais tabule! - concluiu.


O sultão gostou da ideia, chamou os guardas e ordenou que o adivinho fosse moído e sua carne transformada em suculenta kafta.  Afinal, o sultão ainda possuía todos os dentes firmes e saudáveis.


O terceiro adivinho também se chamava colaborador Bob, empesteou o ambiente com a tal fumaça, revirou os olhos, fez "hummmmmm", colocou a mão na testa e disse:


- Majestade.... lamento dizer... cada dente caído significa uma pessoa amada que perderá...


O sultão surpreendeu-se com aquela insolente maldição conjurada, mandou chamar os guardas e ordenou que o adivinho fosse chicoteado tantas vezes até virar tabule.  A interpretação anterior lhe soara melhor.


O quarto adivinho que - adivinhem! - se chamava colaborador Bob entrou tenso, mas confiante.  Espalhou quatro vezes mais fumaça podre no recinto, revirou os olhos, fez "hummmmmm", colocou a mão na testa, sentou-se em posição de lótus, depois refez tudo pois errara a ordem das coisas, primeiro a fumaça, depois a posição de lótus, os olhos, o "hummmmmm" e, por fim, a mão na testa para dizer:


- Majestade!  Grandes notícias!  Vejo aqui que Vossa Majestade haverá de sobreviver a todos aqueles que ama!


O sultão sorriu.  O rosto do adivinho transformou-se, demonstrando alívio.  Em seguida, a alteza se levantou, aproximou-se do colaborador Bob, deu-lhe um beijo na cabeça e lhe sussurrou ao ouvido:


- Eu te amo...


Os guardas entraram, agarraram o colaborador Bob e o sultão ordenou que do adivinho fosse transformado em lentilha.


Um nobre que acompanhara a cena comentou:


- Majestade... não entendo. - disse, cuidadosamente.  - A interpretação deste último adivinho foi a mesma do anterior, ele só tentou comunicar de uma forma positiva.  Por que o fim acabou sendo o mesmo?


- É que eu estou com uma baita fome... - respondeu o sultão, abraçando o amigo, enquanto se dirigiam ao salão de refeições para almoçar.  - E, como todos sabemos, o fim justifica os meios...

- É... -  disse o nobre. - Mas, faltou a batata-frita...

sábado, 15 de outubro de 2011

As Fabulosas Fábulas de Auto-Ajuda que Não Deram Certo

O Pobre Honesto

Diante do rei, apresentava-se o Duque de... que acusava o colaborador Bob de lhe ter furtado 100 moedas de ouro.  O rei estava sentado no trono de pedra, ao alto de uma plataforma de 10 degraus, acompanhando atentamente a apresentação do caso pelo seu sobrinho mais novo.


- Majestade, - disse o Duque de... - como bem sabe, recentemente havia oferecido uma recompensa por quem encontrasse uma sacola de couro com 500 moedas de ouro...


O rei passou a apoiar o queixo com a mão direita, demonstrando sapiência, enquanto que a mão esquerda pendia do braço do trono, aparentemente sem vida, em sinal de clemência.


- Eis que, outro dia, apareceu na minha porta este senhor aqui... - continuou o duque, apontando com desdém para o cabisbaixo colaborador Bob, - ...pedindo recompensa por estar devolvendo minha sacola...


- E você confirma? - perguntou o rei pela primeira vez ao réu.


- S-sim, Majestade... - gaguejou o colaborador Bob.


- E onde você encontrara o dinheiro? - perguntou o rei.


- Esta é uma história muito longa, Majestade... - disse o réu.  O rei fez sinal para prosseguir.  - Venho de uma família muito pobre... Minha mãe morreu quando nasci, meu pai foi vítima da varíola quando tinha 3 anos.  Separado dos meus irmãos, fui para o orfanato dirigido por uma ordem de cátaros.  Quando os cátaros foram acusados de heresia, o orfanato foi invadido pelas tropas francesas e acabei mutilado... - disse, referindo-se aos dedos decepados da mão esquerda.  - Acho que escapei por ter ficado escondido sob uma pilha de corpos.  Depois, caminhei por terras devastadas em busca de comida.  Um dia, tive um sonho, vi um duende escondendo uma sacola cheia de moedas de ouro e uma voz de Milton Nascimento que cantava: "Minha casa não é minha / e nem é meu este lugar / Estou só e não resisto, muito tenho prá falar / Solto a voz nas estradas, já não quero parar / Meu caminho é de pedras, como posso sonhar..." Cresci perambulando por essas estradas, quase sempre quando dormia sonhava com as moedas e ouvia a tal música cantada pelo Milton Nascimento. Um dia acordei, já homem feito, levantei-me e vi acima da névoa dos pastos as torres das igrejas deste reino.  Para cá me dirigi e, quando caminhava nos fundos da taberna, encontrei esta sacola de ouro...


O Duque de... havia de fato oferecido uma recompensa pela sacola, aparentemente perdida numa noite de bebedeira com as prostitutas da taberna.  Como os cartazes espalhados não especificavam a quantidade perdida, quando o colaborador Bob apresentou-se ao duque, apesar de ter conferido que o valor estava exato, o nobre viu ali a oportunidade de não oferecer recompensa alguma ao alegar que faltavam cem moedas.  Os pensamentos do duque foram interrompidos por uma pergunta do rei.


- E por que não pagou a recompensa ao pobre rapaz? - perguntou o rei ao sobrinho.


- Porque, Majestade, observei que faltavam 100 moedas de ouro... - respondeu o nobre.


O rei ponderou em silêncio por alguns instantes.  Depois, resumiu:


- Temos aqui o caso do Duque de... que perdeu uma sacola com quinhentas moedas de ouro.  Este homem que se intitula colaborador Bob aparece um dia à porta do Duque devolvendo-lhe a sacola e reivindicando a recompensa.  Eis que o Duque, antes de pagar o valor devido, decide contar quantas moedas havia e descobre que faltavam cem moedas.


- Correto - disse o Duque.


- Eu não peguei nada - defendeu-se o colaborador Bob.


- Tenho uma pergunta... - disse o rei, dirigindo-se ao sobrinho.  Havia alguma identificação na sacola de couro?


- Não... - respondeu o Duque desconfiadamente.


Então, - disse o rei para o sobrinho, - ...esta sacola de couro não é sua!   O Duque de... empalideceu, enquanto que o rosto do colaborador Bob se iluminou.  - Continue a oferecer a recompensa até que a sacola seja encontrada... -  sentenciou o rei.


- Mas... Majestade... - tentou argumentar o Duque de..., mas o rei não quis ouvi-lo.  - Caso encerrado - completou o rei.


O colaborador Bob sentia-se radiante.  Era o sonho de uma vida se realizando! Fez uma mesura desajeitada em agradecimento, pegou a sacola com as 500 moedas de ouro e, quando saía daquele salão, ouviu o rei gritar: "Guardas!  Prendam este homem!"


A passagem foi obstruída por dois guardas com longas lanças. Sem compreender a situação, o colaborador Bob voltou-se para o rei que havia se erguido do trono e descia as escadas.  - Esta sacola... - disse o rei, aproximando-se de Bob, - tampouco é tua!  Trata-se de um tesouro real que acabaste de roubar... - explicou, tomando o dinheiro das mãos do atônito colaborador.


O colaborador Bob foi enforcado em praça pública, sob os olhares de centenas de aldeões.  Suas últimas palavras foram: "Maldito Milton Nascimento..."

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Novo Padrão Desenhado pela ABNT


- Essa aí não é aquela apresentadora de telejornal?
- Sei não... Tá mal desenhada...
- Acho que é... mas tem algo estranho nela...
- Sei não... Deve ser aquele bigode de Sir Ney...
- (Ou da Dona Mar Lee...)
- Mas... o que o bigode de Sir Ney...
- (... ou da Dona Mar Lee...)
- ... ou da Dona Mar Lee,  faz ali, no desenho?
- Esconder alguma outra coisa que não percebemos.
- Ora, quantas coisas o bigode de Sir Ney...
- (...ou da Dona Mar Lee...)
- ...ou da Dona Mar Lee, poderia esconder?
- Coisas que devem estar nos arquivos confidenciais, por exemplo.
- Arquivos confidenciais?
- Sim, aqueles que não querem divulgar.  Somente os presidentes...
- (...ou a Dona Mar Lee...)
- ...ou a Dona Mar Lee  possuem acesso aos tais arquivos confidenciais.
- Puxa!  Devem ter coisas de arrepiar os fios do bigode do Sir Ney...
- (... ou da Dona Mar Lee...)
- ...ou da Dona Mar Lee!  Mas, acho que tem outra mensagem oculta neste desenho...
- (...ou nos arquivos confidenciais...)
- ... ou nos arquivos confidenciais dos presidentes!
- Pode ser.  Aquele nariz da mulher não tá esquisito?
- Tem razão.  Há três buracos nele.
- Vai ver o de baixo é uma verruga...
- (...ou uma pulga...)
- ... ou uma pulga que pode estar fugindo do bigode...
- ...indo pra trás da orelha.
- Pode ser.  Mas que o desenho tem algo de estranho, isso tem!

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

De Tanto Insistir, Vai Acabar Virando Padrão...


Pesquisa:


A charge acima foi mostrada para 7.837.392.120 brasileiros que costumam votar no Big-Brother em pleno Carnaval.  A margem de erro é de 100 pontos percentuais, para baixo, para cima, para a direita e para a esquerda.  Aliás, para a esquerda a margem de erro hoje está em 200 pontos percentuais.

  • 15% não perceberam que se trata de um porquinho para guardar moedinhas;
  • 27% não entenderam a piada com o padrão brasileiro de tomadas no lugar do focinho do porco;
  • 5% não repararam que a fenda para colocar moedinhas no porquinho não serviria para moedas comumente existentes;
  • 5% procuraram Pango-Pango no Google para descobrir se de fato existiria um moedinha em formato de miojo cubista;
  • 1 pessoa afirmou categoricamente que Pango-Pango é a capital da Samoa Americana, última cidade da Terra a celebrar o Ano-Novo (GMT -11) e que a moeda do lugar é o Dólar de Samoa Americana.  Perguntado como se chamam aqueles que nascem em Samoa Americana, o indivíduo respondeu: "Samoel!  Samoel!  Please, come here!";
  • 3% juram que o Dólar de Samoa Americana vale mais que o Real, portanto a piadinha com a economia supostamente atrasada e primitiva do local (o que justificaria o estranho formato da moeda) deixa de fazer sentido;
  • 45% entenderam a piada, mas não acharam a menor graça;
  • Esses 45% voltaram para casa para trocar todos os plugues.  Feito o trabalho, perceberam que precisariam de adaptadores para os aparelhos trazidos do exterior.  
  • Esses 45% passaram a detestar a piada.

sábado, 8 de outubro de 2011

As Fabulosas Fábulas de Auto Ajuda que Não Deram Certo

Os Sete Hábitos das Pessoas Altamente Eficazes


Liderados por dois porcos, Bola-de-Neve e Napoleão, os animais assumiram o controle da fazenda Manor.  O local, antes dominado pelo autoritarismo do homem, passou a ser administrado pelos próprios bichos, dirigidos pelos letrados porcos.  Certo dia, apareceu um outro porco que se apresentara como colaborador Bob.  O tal colaborador foi conduzido ao estábulo onde os animais debatiam uma constituição mais adequada para o lugar.


- Os senhores permitam-me interrompê-los... - disse o colaborador Bob, chamando a atenção de todos. - Vim de longe e, após vê-los discutir por horas a fio sem avançar, acredito que posso ajudá-los com uma proposta de constituição simples e direta. - completou.


- Quem é você ? - perguntou o sisudo Napoleão.  Do lado, Bola-de-Neve cochichava com uma ovelha sobre o andamento da implantação de uma Lã House.


- Sou o colaborador Bob, Excelência! - apresentou-se.


- E qual seria a sua proposta? - perguntou Napoleão, sem perceber que Bola-de-Neve recebia lavagem (não de dinheiro) por debaixo dos panos.


- Uma Constituição nos moldes da americana, com poucos itens, sete no máximo. - propôs. - Eu chamo de... Os Sete Hábitos das Pessoas Altamente Eficazes!


Todos os bichos fizeram barulho.  Napoleão recebera uma parte da lavagem que Bola-de-Neve compartilhara, presente do bode velho que pleiteava uma vaga no Senado.  Após comer, ficou satisfeito e pediu ordem na casa.


- Senhor Bob... - retomou Napoleão, a voz arrastada.  - Caso não tenha percebido, não somos pessoas, somos porcos... - ironizou.


- Eles se aplicam a porcos também, senhor, com algumas poucas modificações.  - replicou Bob.  - Vejamos, um: ser proativo...


Muxoxos foram ouvidos no local.  Uma galinha de penas douradas gritou: "Ei, que tal essa: qualquer coisa que ande sobre duas pernas é inimigo!"


A algazarra retornou e, desta vez, Napoleão teve mais trabalho para fazer a bicharada se calar.  Bola-de-Neve pediu a palavra: "Mas... você anda em duas pernas, esqueceu?"


Todos se voltaram com olhares vorazes para a galinha que só teve tempo de exclamar "oh-oh!" antes de ser devorada.  Napoleão comentou: "isso é o que dá tamanha proatividade..." e ordenou que o colaborador Bob continuasse.


- Dois: vocês precisam ter um objetivo em mente...


- Boring... - gritou um chester entediado lá do fundo.  - Proponho que o item dois seja: qualquer coisa que ande sobre quatro patas ou tenha asas seja amigo!


Uma raposa cuspiu um bolo de penas neste instante.  A emenda proposta pelo chester foi aprovada.


- Três: Primeiro, o mais importante! - adiantou Bob, aproveitando a oportunidade.


Os animais começaram a urrar "Sexo! Sexo! Sexo!".  Um lobo uivou, Boxer, o cavalo, relinchou e foi atrás de uma rebolativa égua.  Um coelho gritou: "Já sei! Nenhum animal usará roupas!"  A proposta foi aclamada, o coelho foi lançado ao ar e, do palanque, o colaborador Bob observava o efeito de suas palavras.


Da mesa diretora, Napoleão e Bola-de-Neve acompanhavam o desenrolar da sessão sussurrando uma coisa ou outra com alguns assessores.


- Quarto: Mentalidade ganha-ganha! - apresentou Bob, o quarto ponto da constituição.


Fez-se silêncio.  Napoleão ficou boquiaberto diante da proposta que representava uma ameaça à nova filosofia de vida: até então, apenas Napoleão ganhava.  Ao seu lado, Bola-de-Neve também mostrava sinais de desconforto.  Os dois lembraram das imensas propinas que forravam seus colchões.  Napoleão pediu a palavra.


- Apenas uma pequena alteração no texto.  No lugar de Mentalidade Ganha-Ganha, ficará: nenhum animal dormirá em cama!


- Proposta aprovada... - apressou-se Bola-de-Neve, antes da assembleia se manifestar.  - Próximo item...


- Quinto: Procure compreender, depois ser compreendido! - leu o colaborador Bob.


Os bichos se olharam sem compreender a proposta.  Napoleão aproveitou o impasse para emplacar outra revisão: "Nenhum animal beberá álcool!".  O peru ficou exultante e saiu gritando: "Extinguiram a pena de morte!  Extinguiram a pena de morte!"


- Sexto: Criar sinergia!


As exaltações das primeiras propostas davam agora lugar aos murmúrios causados por aquelas obscuras sugestões.  E foi assim que uma voz se ergueu perguntando: "Afinal, o que é sinergia?"


O colaborador Bob surpreendeu-se com aquela pergunta e mais ainda com o fato de ele não ter a mínima ideia do significado de sinergia.   Contudo, para não perder a atenção da plateia, resolveu improvisar: "é uma forma afirmativa de produzir energia!"


- Tipo o quê? Um moinho de vento? - perguntou a mesma voz.


- Ah, qualquer coisa que não seja "noclear", como por exemplo uma "u-sim-na" hidrelétrica. - explicou Bob.  Napoleão olhou para Bola-de-Neve e fez o sinal de cortar o pescoço.  Bola-de-Neve balançou afirmativamente a cabeça.  Aqueles foram trocadilhos terríveis.  Percebendo a tensão crescente, Bob retificou: 


- Bom, acho que podemos trocar essa por nenhum animal poderá ser morto por outro animal.


A proposta foi aprovada. Napoleão, contudo, estranhava a natureza daquelas propostas, julgando-as humanas demais.  Virou para o lado e cochichou com Bola-de-Neve: "Sinergia é coisa de humano", ao passo que o colega respondeu: "Acho que nem eles sabem o que é..."


No palanque, alheio aos pormenores que aconteciam na mesa e se sentindo mais seguro, Bob apresentou o derradeiro item: "afinar o instrumento!"


Dois cervos pularam de alegria nos fundos do estábulo exclamando: "Adorei!  Arrasou!"  Os demais animais mostraram-se confusos diante daquela estranha constituição.  Napoleão sinalizou sutilmente para dois ursos que retiraram o colaborador Bob do palanque e o conduziram para fora do estábulo.  O som de um cuco foi ouvido repetidas vezes.


- Senhores, proponho colocar como último item que todos os animais são iguais perante à lei... - declarou Napoleão, para delírio da plateia.  - Mas, apenas os burros podem votar... - concluiu.  No meio de tanta festa e entusiasmo, a constituição foi promulgada, sem que maiores detalhes fossem percebidos.


O colaborador Bob foi acusado de entreguismo e ter perturbado a ordem da fazenda.  Não foi morto pelos animais, algo proibido pela constituição recém-promulgada. Ao invés disso, foi dado de presente ao senhor Pilkington que o assou com muita perícia, tendo sido devidamente degustado no almoço de domingo.



Com direito a maçã na boca e tudo mais.

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

As Fabulosas Fábulas de Auto-Ajuda que Não Deram Certo

A Arte da Guerra
25 de outubro de 1415.  Dia de São Crispim.  Após uma árdua campanha em solo francês, os maltrapilhos ingleses liderados por Henrique V marchavam para Calais quando acabaram bloqueados pelos franceses em Azincourt.   As chances inglesas não eram boas – faltavam-lhes botas e suprimentos, sobravam-lhes fome e disenteria.   Do outro lado, os nobres franceses haviam reunido cerca de 8.000 homens bem dispostos para aniquilar o inimigo, numa proporção de mais de 5 franceses para cada inglês.  Ciente de tudo isso, Henrique V percebeu que apenas três fatores lhe favoreceriam: o campo de batalha, a inspiração de seus homens e o arco longo.
Mentalmente debilitado, o rei francês Carlos VI havia nomeado o colaborador Bob como astrólogo real e estrategista.  Um arauto francês fora enviado naquela manhã para convencer Henrique V a desistir da batalha.  Diante da negativa do rei inglês, o colaborador Bob foi se reunir com os nobres franceses para debater a estratégia de ataque.
- O que vocês acham? – perguntou o Duque de Alençon.
- Uma insanidade! – respondeu o Condestável D'Albret. – O terreno é estreito, o solo está fofo demais por conta do plantio do trigo para o inverno.  Temos que dar a volta e atacá-los em outro ponto! – enfatizou.
O colaborador Bob acabara de entrar no acampamento e, abrindo um pesado livro de bambu chinês, respondeu:
- Discordo!  Sun Tzu disse: "A invencibilidade está na defesa;  a possibilidade de vitória, no ataque. Quem se defende mostra que sua força é inadequada; quem ataca, mostra que ela é abundante." - e completou, - Além disso, Marte está alinhado com Mercúrio, o que mostra tempo propício para vitórias...
- Vamos atacá-los! – gritou o Conde de Nevers.  – Vamos ensiná-los uma lição! – completou o Duque de Orléans.
-Mon Dieu!  Mas, como nossa cavalaria vai atravessar esse terreno? – questionou o Condestável D'Albret.  - Além disso, é estreito demais para uma formação adequada! - completou.
- Ora, meu caro... – respondeu calmamente o colaborador Bob. – Sun Tzu disse: "Se numericamente és mais fraco, procura a retirada." Ora, quem de nós é numericamente mais fraco?
- Os ingleses! – respondeu o Duque de Bourbon, com a anuência dos demais.
- Logo, - concluiu Bob, - se numericamente somos mais fortes, devemos procurar o ataque! - Bob fez uma pequena pausa antes de continuar. - E antes do dia terminar, pois amanhã Vênus se alinha com Netuno, o que indica período ruim para guerras.
O Condestável D'Albret nunca havia ouvido falar no tal Sun Tzu, mas algo naquela lógica do colaborador Bob lhe parecia inadequado, quiçá absurdo.  O Duque de Alençon também se mostrava reticente.
- Amigos, esta prudência dos senhores é a garantia de nossa vitória! – animou-se o colaborador Bob.  – Vejamos o que diz Sun Tzu... – disse, abrindo o pesado livro em outro ponto.  – "Aquele que é prudente e espera por um inimigo imprudente será vitorioso".  Nós estamos sendo prudentes, eles, os ingleses, imprudentemente atravessaram a Bretanha e a Normandia... - Bob fez uma pausa antes de prosseguir. - Logo...
- Mon Dieu! Você está certo! – exclamou o Duque de Bourbon. – Ao ataque! – decidiu o Conde de Nevers.  - Montjoie! Saint Denis! - gritaram os demais.
Os nobres saíram do acampamento e o Condestável D'Albret ficou encarregado de formar a primeira linha da cavalaria francesa.  Ainda desconfiado, aproximou-se do colaborador Bob e propôs:
 - Gostaria de liderar nosso conroi, Monsieur Bob?
Exultante, o colaborador Bob concordou em liderar a primeira linha francesa.  Do outro lado, o rei Henrique discursava para seus homens, conclamando-os à batalha: "Nós, poucos, nós, poucos e felizes; nós, um bando de irmãos!..."  Alheio a tudo, Bob virava-se para a retaguarda  francesa e gritava "Montjoie! Saint Denis!", enquanto que os ingleses gritavam a plenos pulmões "Saint George!"
O colaborador Bob esporeou seu cavalo e saiu em disparada ao encontro dos ingleses.  O Condestável D'Albret, antes que o conroi saísse, cruzou na frente da cavalaria e ordenou que  aguardassem.  O colaborador Bob estava sozinho.
As flechas inglesas voaram, o céu escureceu e o corpo do colaborador Bob foi transformado numa peneira.  O cavalo tombou por cima do colaborador.  As linhas da cavalaria francesa avançaram.  Uma pilha de cavalos mortos e cavaleiros esquartejados formou-se sobre o colaborador Bob.  E os ingleses venceram.

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

As Fabulosas Fábulas de Auto Ajuda que Não Deram Certo

Aprendendo com os Gansos


Era um belo dia de sol e o rei decidira reunir a corte para caçar.  Procuraram por cervos, mas nenhum foi encontrado.  Coelhos, nem sinal.  Os suculentos perdizes também haviam desaparecido e, após 5 horas, tudo o que o grupo conseguira abater foram 2 cobras e uma cotovia.  Magra e doente.


Irritado, o rei mandou chamar o guarda da caça, o colaborador Bob.


- Onde estão os animais que antes abundavam nestas terras reais? - perguntou o rei.


- Majestade... - respondeu Bob com voz vacilante, - permita-me observar... ao invés de se prender ao passado, por que não mergulhar no futuro?


O rei levantou a sobrancelha, sem entender a resposta.  - Ora, vamos homem! Explique-se! - ordenou.


- Os gansos, por exemplo.  O que podemos aprender com eles? - perguntou o colaborador Bob.


- Afogá-los! - observou ironicamente o Conde de ... , causando gargalhada geral.  O rei, contudo, sorriu forçadamente.


- Não! - exclamou Bob.  - Os gansos, por exemplo, sempre voam em formação V.  Alguém sabe o porquê?


- Ora!  Para evitar que numa fila indiana o de trás tente se afogar no da frente! - gritou o Duque de ...  Desta vez a gargalhada soou mais alto e o rei se sentia cada vez mais incomodado com aquela situação.


- Nada disso! - advertiu o colaborador Bob, desenhando um V com um galho seco no chão de terra batida.  - A formação em V faz com que os gansos se cansem menos, o que é fundamental nas longas viagens de migração dessas aves.  - explicou.  - Isso, meus caros, é trabalho em equipe!  E tem mais... "Mais?  Tem mais?", pensou o rei.  - Alguém aí sabe o que acontece quando, por algum motivo, um ganso sai da formação?


- Quando ele escapa para se afogar? - observou o Condestável de... Alguns daqueles nobres choravam de tanto rir.  O rei, inicialmente incomodado, começara a se sentir humilhado.  O colaborador Bob nada percebia, tão absorto estava em sua explicação.  - Pode ser, por exemplo... - respondeu.  - Sabem o que acontece?


- O macho vai atrás e os dois mergulham no lago atrás da moita! - gritou o Barão de ...  As gargalhadas soavam cada vez mais alto e duravam cada vez mais.  E as faces do rei eram de um vermelho cada vez mais intenso.


- Ué... - ponderou Bob, perplexamente.  - Sabem que de certa forma o senhor está certo! - admitiu.


Aquilo foi demais para o rei que, sem dar tempo para o ataque de risos que normalmente ocorreria, ordenou rispidamente ao colaborador Bob: 


-  Corra!  Você tem dez minutos de vantagem!


O colaborador Bob correu o mais rápido que pôoude* e se escondeu no bosque.  O rei olhou para os nobres montados em seus belos cavalos e comentou:


- Finalmente, a caça!


E hoje, no palácio real, entre cabeças de cervos, ursos e porcos selvagens, é exibida em destaque a cabeça do colaborador Bob.




* Nota do autor: como é objetivo que este texto perdure por algumas décadas sem perder o sentido original, optou-se por grafar o pretérito perfeito do verbo poder como "pôoude", de forma a sobreviver às inúmeras revisões ortográficas que certamente ainda vierão** no Brasil.


** Nota do autor: como é objetivo que a primeira nota do autor perdure por algumas décadas sem perder o sentido original, optou-se por grafar o futuro do presente do verbo vir como "vierão", de forma a sobreviver às inúmeras revisões ortográficas que certamente ainda ocorrerão no Brasil.







domingo, 2 de outubro de 2011

As Fabulosas Fábulas de Auto Ajuda que Não Deram Certo

As Maravilhas da Vida


Em um reino bem pertinho daqui, ao alcance da vista da janela da sala, havia um rei que passava por dificuldades.  A economia ia mal, a popularidade beirava o fundo do poço e a oposição articulava a renúncia do monarca.  Deprimido, o rei ordenou que lhe preparassem uma deliciosa guloseima.


O colaborador Bob havia sido admitido recentemente como cozinheiro real e, ao tomar conhecimento da situação, resolveu animar aquele que o contratara.  Instruiu seus ajudantes a levar todos os ingredientes e utensílios para presentear o rei com um bolo inesquecível.


O rei despachava no salão real quando os ajudantes do colaborador Bob entraram no recinto e espalharam todos os itens pela grande mesa que era utilizada em ocasiões especiais.  O rei parara de trabalhar e olhava incrédulo para toda aquela parafernália de cozinha ali disposta.  Os ajudantes retiraram-se em silêncio, sem olhar para a alteza,  enquanto que o colaborador Bob adiantou-se para se apresentar.


- Majestade, sou o recém-contratado cozinheiro real e venho aqui para presenteá-lo com algo muito mais valioso que comida...


- Prossiga... - ordenou o rei, ainda não acreditando na cena.


- Veja Majestade, estes ingredientes, isoladamente, são como os dissabores da vida - explicava Bob, enquanto despejava a farinha dentro de uma tigela.  - A farinha, por exemplo... - disse - não tem gosto de nada...


- Tem gosto de farinha - corrigiu o rei.  - E, grave bem as palavras, de uma farinha especial...- advertiu.


- O ovo, Majestade... Argh... é tão ruim quando o comemos cru... - disse, adicionando ovos à mistura.  - O leite, vá lá que seja... Mas e o fermento?  Há coisa pior do que comermos aquele bolor? - perguntou, fazendo uma careta de nojo.


O rei assistia perplexo ao colaborador Bob adicionando todos os ingredientes, sempre ressaltando quão desagradáveis estes eram isoladamente. Obviamente que o rei não prestava atenção no que Bob dizia.  Tudo o que o rei pensava era na petulância daquele sujeito insignificante estar ali lhe dando uma lição. 


Assim, totalmente alheio ao rei, Bob terminou o preparo, levou o bolo ao forno e, pouco antes de terminar de assá-lo, retomou o discurso:


- Então,Vossa Alteza, cada ingrediente deste é um dissabor da vida.  No entanto, se trabalharmos direito com cada um desses dissabores, podemos ao final nos deliciar com...


O colaborador Bob abriu o forno, retirou o bolo e, triunfante, completou:"a vitória!"


O rei se levantou num impulso, pegou uma lança que enfeitava a parede e resolveu empalar o cozinheiro no grande salão.  O corpo de Bob foi levado para ser incinerado e as cinzas foram utilizadas pelo cozinheiro seguinte como farinha.


Por um defeito no forno, aquele era o sétimo bolo que havia solado.