sábado, 15 de outubro de 2011

As Fabulosas Fábulas de Auto-Ajuda que Não Deram Certo

O Pobre Honesto

Diante do rei, apresentava-se o Duque de... que acusava o colaborador Bob de lhe ter furtado 100 moedas de ouro.  O rei estava sentado no trono de pedra, ao alto de uma plataforma de 10 degraus, acompanhando atentamente a apresentação do caso pelo seu sobrinho mais novo.


- Majestade, - disse o Duque de... - como bem sabe, recentemente havia oferecido uma recompensa por quem encontrasse uma sacola de couro com 500 moedas de ouro...


O rei passou a apoiar o queixo com a mão direita, demonstrando sapiência, enquanto que a mão esquerda pendia do braço do trono, aparentemente sem vida, em sinal de clemência.


- Eis que, outro dia, apareceu na minha porta este senhor aqui... - continuou o duque, apontando com desdém para o cabisbaixo colaborador Bob, - ...pedindo recompensa por estar devolvendo minha sacola...


- E você confirma? - perguntou o rei pela primeira vez ao réu.


- S-sim, Majestade... - gaguejou o colaborador Bob.


- E onde você encontrara o dinheiro? - perguntou o rei.


- Esta é uma história muito longa, Majestade... - disse o réu.  O rei fez sinal para prosseguir.  - Venho de uma família muito pobre... Minha mãe morreu quando nasci, meu pai foi vítima da varíola quando tinha 3 anos.  Separado dos meus irmãos, fui para o orfanato dirigido por uma ordem de cátaros.  Quando os cátaros foram acusados de heresia, o orfanato foi invadido pelas tropas francesas e acabei mutilado... - disse, referindo-se aos dedos decepados da mão esquerda.  - Acho que escapei por ter ficado escondido sob uma pilha de corpos.  Depois, caminhei por terras devastadas em busca de comida.  Um dia, tive um sonho, vi um duende escondendo uma sacola cheia de moedas de ouro e uma voz de Milton Nascimento que cantava: "Minha casa não é minha / e nem é meu este lugar / Estou só e não resisto, muito tenho prá falar / Solto a voz nas estradas, já não quero parar / Meu caminho é de pedras, como posso sonhar..." Cresci perambulando por essas estradas, quase sempre quando dormia sonhava com as moedas e ouvia a tal música cantada pelo Milton Nascimento. Um dia acordei, já homem feito, levantei-me e vi acima da névoa dos pastos as torres das igrejas deste reino.  Para cá me dirigi e, quando caminhava nos fundos da taberna, encontrei esta sacola de ouro...


O Duque de... havia de fato oferecido uma recompensa pela sacola, aparentemente perdida numa noite de bebedeira com as prostitutas da taberna.  Como os cartazes espalhados não especificavam a quantidade perdida, quando o colaborador Bob apresentou-se ao duque, apesar de ter conferido que o valor estava exato, o nobre viu ali a oportunidade de não oferecer recompensa alguma ao alegar que faltavam cem moedas.  Os pensamentos do duque foram interrompidos por uma pergunta do rei.


- E por que não pagou a recompensa ao pobre rapaz? - perguntou o rei ao sobrinho.


- Porque, Majestade, observei que faltavam 100 moedas de ouro... - respondeu o nobre.


O rei ponderou em silêncio por alguns instantes.  Depois, resumiu:


- Temos aqui o caso do Duque de... que perdeu uma sacola com quinhentas moedas de ouro.  Este homem que se intitula colaborador Bob aparece um dia à porta do Duque devolvendo-lhe a sacola e reivindicando a recompensa.  Eis que o Duque, antes de pagar o valor devido, decide contar quantas moedas havia e descobre que faltavam cem moedas.


- Correto - disse o Duque.


- Eu não peguei nada - defendeu-se o colaborador Bob.


- Tenho uma pergunta... - disse o rei, dirigindo-se ao sobrinho.  Havia alguma identificação na sacola de couro?


- Não... - respondeu o Duque desconfiadamente.


Então, - disse o rei para o sobrinho, - ...esta sacola de couro não é sua!   O Duque de... empalideceu, enquanto que o rosto do colaborador Bob se iluminou.  - Continue a oferecer a recompensa até que a sacola seja encontrada... -  sentenciou o rei.


- Mas... Majestade... - tentou argumentar o Duque de..., mas o rei não quis ouvi-lo.  - Caso encerrado - completou o rei.


O colaborador Bob sentia-se radiante.  Era o sonho de uma vida se realizando! Fez uma mesura desajeitada em agradecimento, pegou a sacola com as 500 moedas de ouro e, quando saía daquele salão, ouviu o rei gritar: "Guardas!  Prendam este homem!"


A passagem foi obstruída por dois guardas com longas lanças. Sem compreender a situação, o colaborador Bob voltou-se para o rei que havia se erguido do trono e descia as escadas.  - Esta sacola... - disse o rei, aproximando-se de Bob, - tampouco é tua!  Trata-se de um tesouro real que acabaste de roubar... - explicou, tomando o dinheiro das mãos do atônito colaborador.


O colaborador Bob foi enforcado em praça pública, sob os olhares de centenas de aldeões.  Suas últimas palavras foram: "Maldito Milton Nascimento..."

2 comentários:

Anônimo disse...

Eu gosto dessa musica.

Armando disse...

A mãe do colaborador Bob poderia ter morrido ANTES dele ter nascido.