sábado, 8 de outubro de 2011

As Fabulosas Fábulas de Auto Ajuda que Não Deram Certo

Os Sete Hábitos das Pessoas Altamente Eficazes


Liderados por dois porcos, Bola-de-Neve e Napoleão, os animais assumiram o controle da fazenda Manor.  O local, antes dominado pelo autoritarismo do homem, passou a ser administrado pelos próprios bichos, dirigidos pelos letrados porcos.  Certo dia, apareceu um outro porco que se apresentara como colaborador Bob.  O tal colaborador foi conduzido ao estábulo onde os animais debatiam uma constituição mais adequada para o lugar.


- Os senhores permitam-me interrompê-los... - disse o colaborador Bob, chamando a atenção de todos. - Vim de longe e, após vê-los discutir por horas a fio sem avançar, acredito que posso ajudá-los com uma proposta de constituição simples e direta. - completou.


- Quem é você ? - perguntou o sisudo Napoleão.  Do lado, Bola-de-Neve cochichava com uma ovelha sobre o andamento da implantação de uma Lã House.


- Sou o colaborador Bob, Excelência! - apresentou-se.


- E qual seria a sua proposta? - perguntou Napoleão, sem perceber que Bola-de-Neve recebia lavagem (não de dinheiro) por debaixo dos panos.


- Uma Constituição nos moldes da americana, com poucos itens, sete no máximo. - propôs. - Eu chamo de... Os Sete Hábitos das Pessoas Altamente Eficazes!


Todos os bichos fizeram barulho.  Napoleão recebera uma parte da lavagem que Bola-de-Neve compartilhara, presente do bode velho que pleiteava uma vaga no Senado.  Após comer, ficou satisfeito e pediu ordem na casa.


- Senhor Bob... - retomou Napoleão, a voz arrastada.  - Caso não tenha percebido, não somos pessoas, somos porcos... - ironizou.


- Eles se aplicam a porcos também, senhor, com algumas poucas modificações.  - replicou Bob.  - Vejamos, um: ser proativo...


Muxoxos foram ouvidos no local.  Uma galinha de penas douradas gritou: "Ei, que tal essa: qualquer coisa que ande sobre duas pernas é inimigo!"


A algazarra retornou e, desta vez, Napoleão teve mais trabalho para fazer a bicharada se calar.  Bola-de-Neve pediu a palavra: "Mas... você anda em duas pernas, esqueceu?"


Todos se voltaram com olhares vorazes para a galinha que só teve tempo de exclamar "oh-oh!" antes de ser devorada.  Napoleão comentou: "isso é o que dá tamanha proatividade..." e ordenou que o colaborador Bob continuasse.


- Dois: vocês precisam ter um objetivo em mente...


- Boring... - gritou um chester entediado lá do fundo.  - Proponho que o item dois seja: qualquer coisa que ande sobre quatro patas ou tenha asas seja amigo!


Uma raposa cuspiu um bolo de penas neste instante.  A emenda proposta pelo chester foi aprovada.


- Três: Primeiro, o mais importante! - adiantou Bob, aproveitando a oportunidade.


Os animais começaram a urrar "Sexo! Sexo! Sexo!".  Um lobo uivou, Boxer, o cavalo, relinchou e foi atrás de uma rebolativa égua.  Um coelho gritou: "Já sei! Nenhum animal usará roupas!"  A proposta foi aclamada, o coelho foi lançado ao ar e, do palanque, o colaborador Bob observava o efeito de suas palavras.


Da mesa diretora, Napoleão e Bola-de-Neve acompanhavam o desenrolar da sessão sussurrando uma coisa ou outra com alguns assessores.


- Quarto: Mentalidade ganha-ganha! - apresentou Bob, o quarto ponto da constituição.


Fez-se silêncio.  Napoleão ficou boquiaberto diante da proposta que representava uma ameaça à nova filosofia de vida: até então, apenas Napoleão ganhava.  Ao seu lado, Bola-de-Neve também mostrava sinais de desconforto.  Os dois lembraram das imensas propinas que forravam seus colchões.  Napoleão pediu a palavra.


- Apenas uma pequena alteração no texto.  No lugar de Mentalidade Ganha-Ganha, ficará: nenhum animal dormirá em cama!


- Proposta aprovada... - apressou-se Bola-de-Neve, antes da assembleia se manifestar.  - Próximo item...


- Quinto: Procure compreender, depois ser compreendido! - leu o colaborador Bob.


Os bichos se olharam sem compreender a proposta.  Napoleão aproveitou o impasse para emplacar outra revisão: "Nenhum animal beberá álcool!".  O peru ficou exultante e saiu gritando: "Extinguiram a pena de morte!  Extinguiram a pena de morte!"


- Sexto: Criar sinergia!


As exaltações das primeiras propostas davam agora lugar aos murmúrios causados por aquelas obscuras sugestões.  E foi assim que uma voz se ergueu perguntando: "Afinal, o que é sinergia?"


O colaborador Bob surpreendeu-se com aquela pergunta e mais ainda com o fato de ele não ter a mínima ideia do significado de sinergia.   Contudo, para não perder a atenção da plateia, resolveu improvisar: "é uma forma afirmativa de produzir energia!"


- Tipo o quê? Um moinho de vento? - perguntou a mesma voz.


- Ah, qualquer coisa que não seja "noclear", como por exemplo uma "u-sim-na" hidrelétrica. - explicou Bob.  Napoleão olhou para Bola-de-Neve e fez o sinal de cortar o pescoço.  Bola-de-Neve balançou afirmativamente a cabeça.  Aqueles foram trocadilhos terríveis.  Percebendo a tensão crescente, Bob retificou: 


- Bom, acho que podemos trocar essa por nenhum animal poderá ser morto por outro animal.


A proposta foi aprovada. Napoleão, contudo, estranhava a natureza daquelas propostas, julgando-as humanas demais.  Virou para o lado e cochichou com Bola-de-Neve: "Sinergia é coisa de humano", ao passo que o colega respondeu: "Acho que nem eles sabem o que é..."


No palanque, alheio aos pormenores que aconteciam na mesa e se sentindo mais seguro, Bob apresentou o derradeiro item: "afinar o instrumento!"


Dois cervos pularam de alegria nos fundos do estábulo exclamando: "Adorei!  Arrasou!"  Os demais animais mostraram-se confusos diante daquela estranha constituição.  Napoleão sinalizou sutilmente para dois ursos que retiraram o colaborador Bob do palanque e o conduziram para fora do estábulo.  O som de um cuco foi ouvido repetidas vezes.


- Senhores, proponho colocar como último item que todos os animais são iguais perante à lei... - declarou Napoleão, para delírio da plateia.  - Mas, apenas os burros podem votar... - concluiu.  No meio de tanta festa e entusiasmo, a constituição foi promulgada, sem que maiores detalhes fossem percebidos.


O colaborador Bob foi acusado de entreguismo e ter perturbado a ordem da fazenda.  Não foi morto pelos animais, algo proibido pela constituição recém-promulgada. Ao invés disso, foi dado de presente ao senhor Pilkington que o assou com muita perícia, tendo sido devidamente degustado no almoço de domingo.



Com direito a maçã na boca e tudo mais.

3 comentários:

Anônimo disse...

que viagem.

Armando disse...

Ainda não parei de rir com a alegria do peru...

Com o intuito de ajudar em ideias para a eliminação sistemática do colaborador Bob sugiro a pesquisa nos sites

http://tortura.wordpress.com/category/metodos-de-execucao/

e

http://jknow.wordpress.com/2010/02/03/pena-de-morte-as-diversas-formas-de-execucao/

Diria que é uma leitura "onde os fracos não tem vez", mas é bastante educativo e elucidativo.

Anônimo disse...

Adoro as aventuras do colaborador Bob. Parece com muito chefe por ai. Poderia fazer um game tipo Doom com o colaborador Bob de inimigo.