sexta-feira, 7 de outubro de 2011

As Fabulosas Fábulas de Auto-Ajuda que Não Deram Certo

A Arte da Guerra
25 de outubro de 1415.  Dia de São Crispim.  Após uma árdua campanha em solo francês, os maltrapilhos ingleses liderados por Henrique V marchavam para Calais quando acabaram bloqueados pelos franceses em Azincourt.   As chances inglesas não eram boas – faltavam-lhes botas e suprimentos, sobravam-lhes fome e disenteria.   Do outro lado, os nobres franceses haviam reunido cerca de 8.000 homens bem dispostos para aniquilar o inimigo, numa proporção de mais de 5 franceses para cada inglês.  Ciente de tudo isso, Henrique V percebeu que apenas três fatores lhe favoreceriam: o campo de batalha, a inspiração de seus homens e o arco longo.
Mentalmente debilitado, o rei francês Carlos VI havia nomeado o colaborador Bob como astrólogo real e estrategista.  Um arauto francês fora enviado naquela manhã para convencer Henrique V a desistir da batalha.  Diante da negativa do rei inglês, o colaborador Bob foi se reunir com os nobres franceses para debater a estratégia de ataque.
- O que vocês acham? – perguntou o Duque de Alençon.
- Uma insanidade! – respondeu o Condestável D'Albret. – O terreno é estreito, o solo está fofo demais por conta do plantio do trigo para o inverno.  Temos que dar a volta e atacá-los em outro ponto! – enfatizou.
O colaborador Bob acabara de entrar no acampamento e, abrindo um pesado livro de bambu chinês, respondeu:
- Discordo!  Sun Tzu disse: "A invencibilidade está na defesa;  a possibilidade de vitória, no ataque. Quem se defende mostra que sua força é inadequada; quem ataca, mostra que ela é abundante." - e completou, - Além disso, Marte está alinhado com Mercúrio, o que mostra tempo propício para vitórias...
- Vamos atacá-los! – gritou o Conde de Nevers.  – Vamos ensiná-los uma lição! – completou o Duque de Orléans.
-Mon Dieu!  Mas, como nossa cavalaria vai atravessar esse terreno? – questionou o Condestável D'Albret.  - Além disso, é estreito demais para uma formação adequada! - completou.
- Ora, meu caro... – respondeu calmamente o colaborador Bob. – Sun Tzu disse: "Se numericamente és mais fraco, procura a retirada." Ora, quem de nós é numericamente mais fraco?
- Os ingleses! – respondeu o Duque de Bourbon, com a anuência dos demais.
- Logo, - concluiu Bob, - se numericamente somos mais fortes, devemos procurar o ataque! - Bob fez uma pequena pausa antes de continuar. - E antes do dia terminar, pois amanhã Vênus se alinha com Netuno, o que indica período ruim para guerras.
O Condestável D'Albret nunca havia ouvido falar no tal Sun Tzu, mas algo naquela lógica do colaborador Bob lhe parecia inadequado, quiçá absurdo.  O Duque de Alençon também se mostrava reticente.
- Amigos, esta prudência dos senhores é a garantia de nossa vitória! – animou-se o colaborador Bob.  – Vejamos o que diz Sun Tzu... – disse, abrindo o pesado livro em outro ponto.  – "Aquele que é prudente e espera por um inimigo imprudente será vitorioso".  Nós estamos sendo prudentes, eles, os ingleses, imprudentemente atravessaram a Bretanha e a Normandia... - Bob fez uma pausa antes de prosseguir. - Logo...
- Mon Dieu! Você está certo! – exclamou o Duque de Bourbon. – Ao ataque! – decidiu o Conde de Nevers.  - Montjoie! Saint Denis! - gritaram os demais.
Os nobres saíram do acampamento e o Condestável D'Albret ficou encarregado de formar a primeira linha da cavalaria francesa.  Ainda desconfiado, aproximou-se do colaborador Bob e propôs:
 - Gostaria de liderar nosso conroi, Monsieur Bob?
Exultante, o colaborador Bob concordou em liderar a primeira linha francesa.  Do outro lado, o rei Henrique discursava para seus homens, conclamando-os à batalha: "Nós, poucos, nós, poucos e felizes; nós, um bando de irmãos!..."  Alheio a tudo, Bob virava-se para a retaguarda  francesa e gritava "Montjoie! Saint Denis!", enquanto que os ingleses gritavam a plenos pulmões "Saint George!"
O colaborador Bob esporeou seu cavalo e saiu em disparada ao encontro dos ingleses.  O Condestável D'Albret, antes que o conroi saísse, cruzou na frente da cavalaria e ordenou que  aguardassem.  O colaborador Bob estava sozinho.
As flechas inglesas voaram, o céu escureceu e o corpo do colaborador Bob foi transformado numa peneira.  O cavalo tombou por cima do colaborador.  As linhas da cavalaria francesa avançaram.  Uma pilha de cavalos mortos e cavaleiros esquartejados formou-se sobre o colaborador Bob.  E os ingleses venceram.

3 comentários:

Armando disse...

Não consigo parar de rir. A última vez que vi a expressão "Montjoie! Saint Denis!" foi aos 12 anos de idade (eu acho) quando li Carlos Magno e seus cavaleiros.

Por outro lado, lamento pelo cavalo. Não dava pra ter salvo?

Ilustre Desconhecido disse...

Meu estoque de mortes para o colaborador Bob está acabando. Infelizmente há muito mais fontes inspiradoras bisonhas do que formas de matar o colaborador Bob.

BarracObama disse...

eu tenho um colaborador Bob la no trabalho!