segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Um Conto de Natal - Primeira Parte

É noite de Natal e Ebenezer Scrooge anda de um lado para o outro, impaciente, na imponente sala do trigésimo segundo andar do edifício sede da Scrooge Corporation. No terceiro andar, duas dúzias de almas penadas lutam para concluir uma proposta que salvará seus empregos no ano seguinte. Deixaram esposa, filhos, irmãos, irmãs, pais, mães, avôs, avós, primos e primas para mergulhar naquela missão suicida. Poucos sabem do que se trata, nenhum entende o porquê; pouco importa: é tarde da noite de 24 de dezembro, todos querem se livrar daquilo o mais breve possível e o mundo nunca é injusto a nosso favor. Principalmente nessas horas.


Fred Bailey é o corpulento consultor encarregado por escrever a parte técnica. Usa óculos antigos de lentes grossas, traz na camisa uma eterna mancha amarelada na altura do peito e a fralda, como de praxe, escapa-lhe da calça a todo o instante. A mesa de Fred é uma trincheira: uma pilha de livros velhos cria uma espécie de barricada contra o mundo externo. Dentro, restos de comida misturam-se a material de trabalho e um odor desagradável começa a se espalhar, acelerado pelo calor infernal que faz naquele lugar, visto que o ar-condicionado não foi ligado por falta de aprovação do superior imediato e do diretor da área.

Voltemos a Ebenezer Scrooge. Scrooge é capa das principais publicações de negócio, retratado como o empreendedor do nosso tempo. Começou vendendo pinheiros em miniatura para adornar drinques da década de 50 e se tornou um dos homens mais ricos do mundo. É também uma figura muito benevolente: todo ano Ebenezer doa 50 milhões de dólares para causas humanitárias, o que revela seu lado sobre-humano. Além disso, os 50 milhões representam pouco mais de 5% do rendimento anual e podem ser abatidos do imposto de renda. Ebenezer Scrooge é tão poderoso que o ar-condicionado da sua sala funciona sempre e ele nem precisa pedir para ligá-lo. E, acima de tudo, a cadeira de Ebenezer é a única reclinável da empresa.

Nesta noite de Natal, tudo é contraste. No terceiro andar, ouve-se punk rock. No trigésimo segundo, música clássica. No terceiro andar, bebe-se café com guaraná. No trigésimo segundo, vinho caro. O ambiente é tumultuado no terceiro andar. E no trigésimo segundo também, visto que Ebenezer contratou umas acompanhantes para animar a noite. A impaciência do velho acabara.

De volta ao terceiro andar, encontramos Mary Crístimas, uma jovem ambiciosa que está trabalhando com líder do time que elabora a proposta. O visual arrumado do início da jornada não existe mais: Mary circula descalça, os cabelos mal presos por lápis roído sem ponta, a maquiagem borrada, as unhas quebradas, uma maltrapilha cobrando que as tarefas sejam concluídas no prazo exigido. Seus olhos doem e cada segundo parece lhe estocar o coração. São duas da manhã, do dia 25 de Dezembro. Mary caminha na direção de Fred para acompanhar o progresso do trabalho.

- Como estamos? – pergunta. A resposta vem do som do teclado do computador. – Você tem alguma bala? – continua, tentando estabelecer contato. Mary ouve o som de uma gaveta e, sobre a muralha de livros, uma mão suja, gorda e peluda lhe oferece um chiclete usado. Mary agradece, dá as costas ao colega e, contra todas as recomendações, decide mascar o chiclete oferecido. Fred, por sua vez, resolve fazer uma pausa e sai para cochilar um pouco no banheiro.

Mary percebe que um líquido sai do chiclete, mas não dá muita relevância ao fato. De volta à mesa, passa a atualizar a caixa de correio de cinco em cinco em cinco segundos, ávida por algo que lhe prendesse a atenção. Até que, de repente, uma pessoa sai de dentro do computador e pára a um palmo do nariz de Mary. Aterrorizada, a jovem pergunta: “q-quem é v-você ?” - Eu sou o fantasma de Natal – responde a assombração. A criatura alça vôo e passa a girar pelo cubículo até parar sentada sobre a mesa, ao lado de Mary.

A jovem não acredita no que vê. Exasperada, exausta, cansada, extenuada, Mary reúne todas as forças restantes e grita: " Ah não! Você não vai ficar parado aí, não! Pega um computador aí e vá escrever a proposta!"

E foi assim que surgiu o ghost-writer de Mary Crístimas.

4 comentários:

Anônimo disse...

Que lixo!

Anônimo disse...

ae muito ruim

Anônimo disse...

O autor desconstrói a realidade em milhões de fractais de beleza, graça e sutileza.

Anônimo disse...

sinistro num tendi nada naum